sábado, 27 de março de 2010

Satisfação

De certa forma, nunca estamos satisfeitos. Se o cara nasce magro, quer ganhar uns quilos e se nasce gordo, quer emagrecer. Essa regra de satisfação é ainda mais aplicável às mulheres: quem nunca viu uma mulher com aqueles seios esculturais reclamando que incomoda, que não é bonito, que dá dor nas costas ou que é chamativo demais? Ou quem nunca viu uma mulher com pernas e bunda perfeitamente desenhados reclamando que é mais bonito mulher com grandes seios do que com bunda bonita ou que bunda grande chama muita atenção? Milhares de exemplos podem ser citados à respeito da insatisfação humana com a condição em que vive, mas isso não mudaria e nem mudará nada.
Voltemo-nos então à pergunta fundamental: por que? Infelizmente, para respondermos essa pergunta será necessária uma análise mais profunda disso tudo. Vamos então supor algumas hipóteses: inveja, necessidade/desejo de mudança/melhora contínua, baixa auto-estima e incapacidade de reconhecer as próprias virtudes e, por último, vontade de ter novas experiências ou reviver antigas. Vamos analisar uma a uma.
Sem dúvida alguma, muitas pessoas buscam em outras, qualidades e características que acreditam que deveriam ter também, algumas físicas e outras de caráter. Algumas vezes essa busca é tão doentia, que a pessoa só se contenta se conseguir colocar a outra no mesmo patamar dela, seja qual for a maneira usada para conseguir isso. Com certeza esse é o pior caso de inveja e o mais comum. Por outro lado, tem pessoas que usam outras como "espelho" daquilo que querem ser, como exemplo. Embora isso não seja algo ruim, demonstra claramente uma insatisfação com a situação atual em que essa pessoa se encontra. Esse segundo caso é menos grave e muitas vezes motiva a pessoa ao crescimento, portanto pode ser considerado "benéfico" dependendo da situação.
Um dos muitos motivos que fazem o capitalismo ser o sistema econômico que rege todo o mundo nos dias atuais, é a possibilidade que ele dá às pessoas de poder correr atrás dos seus sonhos. Embora isso funcione muito mais na teoria do que na prática (devido a muitos fatores que não citarei aqui), isso pode ser usado para explicar a segunda hipótese aqui proposta: necessidade contínua de melhoria e mudança. Toda pessoa "racional" tem certos objetivos na vida e está sempre em busca deles, embora qual seja essa meta varie muito. Essa busca constante pelas nossos desejos, tende a fazer com que não valorizemos de maneira adequada o que temos no instante momento. Embora todos queiram "crescer", nem todos conseguem transformar essa vontade e ambição em desenvolvimento efetivo. Esse grupo de pessoas, considerado por muitos como "conformado", na verdade não está conformado com a situação em que vive, apenas não tem coragem ou determinação suficiente para correr atrás daquilo que realmente deseja (salvo casos especiais de falta de recurso para o crescimento). Esse tipo de insatisfação é bom para as pessoas que sabem o que querem e não tem medo de arriscar, pois as motiva ao desenvolvimento.
Reclamar é muito mais fácil do que aceitar. Pessoas com baixa auto-estima, no geral, não conseguem ver boas características nelas mesmas e costumam copiar qualidades de outras pessoas ou enaltecê-las ao mesmo tempo que desvalorizam as próprias. É essencial que nos aceitemos como somos, nos amemos e reconheçamos nosso valor e potencial. Se isso não está ocorrendo, é óbvio que ficaremos sempre insatisfeitos com tudo aquilo que se refere a nós mesmos. Isso não significa necessariamente que temos que nos tornar arrogantes ou prepotentes, muito pelo contrário, humildade continua sendo de suma importância, o que estou propondo é que, para alcançarmos a felicidade, antes de tudo temos que entender que, apesar de muitas limitações, temos virtudes que não podem ser deixadas de lado e merecem sempre ser lembradas quando questionadas. Por outro lado, admitirmos e reconhecermos que somos bons em algo não deve ser motivo para que não queiramos ampliar os nossos horizontes, muito pelo contrário, se sabemos no que somos capacitados, é mais do que justo que exploremos esse potencial.
Se está solteiro, quer namorar, se está namorando, quer estar solteiro. São raros os casos em que alguém realmente gosta de como está, o mais comum é que busquemos ficar numa situação oposta a que estamos. A explicação mais clara que encontrei para isso é que o ser humano tende a enjoar da rotina. Estamos sempre em busca de novidades ou de reviver algo que já nos deu prazer outrora. E é isso que acontece com longos namoros ou pessoas que estão solteiros há muito tempo: querem conhecer ou rever o outro lado da moeda. Isso muitas vezes faz com que o solteiro tente namorar qualquer pessoa só pela sensação de estar namorando (geralmente não durando nada esse namoro) e que o cara que namora sempre queira "dar um tempo" com a namorada pra reviver aquela sensação de "liberdade".
Por fim, quatro hipóteses foram citadas para tentar explicar a insatisfação geral que nós temos com quase tudo na vida. Com certeza, muita coisa ainda há de ser dita sobre esse assunto, mas o mais importante é nós aprendermos a refletir sobre o que realmente está nos dando desgosto e porque está nos dando desgosto para que possamos começar a erradicar esse problema.