O Império do Sal

O homem não passa bem. Ninguém percebe, mas o homem está doente porque vê a vida de seus filhos ser levada pelo sal. Até quando eles vão se matar só por isso? Os filhos do homem criaram o sal para representar o poder, mas ele os matou pela ganância. O homem clama para que seus filhos amem a si mesmo, mas eles insistem em endeusar algo sem significado nenhum. O mundo do sal está em ruína, mas ninguém aceita o mundo dos filhos.
O homem não tem culpa pelas suas crias, mas elas insistem em culpá-lo por sua maldade e cobiça. Pessoas se matam por uma miséria, ao invés de se matarem por um irmão. Está tudo errado, mas só o pai parece saber; para seus filhos está tudo certo, porque tudo sempre foi assim: ajudar um irmão é sem sentido, mas adorar algo que a sociedade inventou é fundamental. O império do sal exclui àqueles que não querem idolatrá-lo e escraviza os que buscam o poder. No dia que o filho notar que seus irmãos têm mais valor que um punhado de porcaria, talvez o pai já tenha morrido.

Tic-tac

O relógio parou. Já não o ouço tiquetaqueando como outrora...será que um dia ele realmente o fez? Quando olho para os ponteiros eles estão estáticos, mas quando eles olham para mim, tudo está normal. Tudo parece normal, por que só o meu relógio insiste em ficar parado? Cada um gira a sua própria roda do tempo, preciso aprender a girar a minha. O crepúsculo é apenas o anúncio da certeza: meu relógio parou, mas o do mundo continua girando.
Trocamos olhares, dizemos palavras, mas nada muda. O sol nasce sorrindo esperançoso, mas se põe triste, frustrado. A esperança é a última que morre, não porque quero, mas sim por ser teimosa; até quando a mentira vai se fazer verdade? O anjo da noite tem que dormir, para que o mundo dos sonhos o abrace com suas fantasias.
Tic-tac, tic-tac, TRIM! TRIM! TRIM! 9:30! Olhe, o relógio funciona! A criança acorda, esperançosa para um novo dia, mas ao olhar os ponteiros, o relógio continua parado; nada mudou. 18 de maio de 91, meu relógio parou e ainda estou esperando alguém que venha consertá-lo. Quando vou aprender a consertá-lo sozinho?