sábado, 9 de abril de 2011

Determinismo

Existem, basicamente, três maneiras de se enxergar a vida: a primeira é acreditar que absolutamente tudo já está 'escrito' e pré-determinado por uma força maior e que o destino é inevitável e imutável, ou seja, crer no determinismo; a segunda é ver tudo como mera consequência dos nossos atos, sendo a realidade um emaranhado de reações das nossas ações, que se interceptam a cada segundo e a cada momento, não tendo assim nenhuma relação pré-determinada e nenhum roteiro a seguir; e a terceira, é pensar no misto das duas filosofias, isto é, que existem coisas que são inevitáveis (além da morte) e que existem outras que são moldadas pelos nossos atos.
Hoje, 10 de abril de 2011, eu estou em frente a um computador mais velho do que guaraná com rolha escrevendo um texto que, para os deterministas, eu já estava destinado a escrever. Ou seja, de certa forma, independente das atitudes que eu tomasse, a decisão final, segundo eles, é que eu escreveria este texto hoje e neste momento, pois o mesmo é necessário para manter a 'ordem' das coisas pré-programadas. Mas e se eu simplesmente decidisse não o escrever? Essa é uma possibilidade inexistente, haja vista que, independente do meu parecer final, o futuro é inevitável. O problema do determinismo é que ele limita as pessoas ao conformismo e as faz não tomar atitudes por achar que tudo só precisa de tempo, que tudo acontece naturalmente. Por outro lado, existem coisas que só acreditando no destino é possível explicar, como muitos romances em que duas pessoas se conhecem por acaso, acabam se casando e encontram a felicidade.
Amanhã, se eu sair de casa e for atropelado por um carro, inevitavelmente estarei modificando a vida da pessoa que me atropelou, a de todos que viram, a dos médicos que me atenderão e, obviamente, a minha também, porém, se eu simplesmente não sair de casa, não conhecerei essas pessoas e nada mudará. Eu sei, você deve estar pensando: "tá, e daí?", o fato é que o que vai acontecer comigo depende unica e exclusivamente das atitudes que eu tomo e que, se eu não fizer nada, as coisas permanecem estáticas. De maneira contrária, qualquer atitude que eu tomar pode e deve modificar intensamente a ordem das coisas, mudando assim o rumo futuro, o que, de certa forma, derruba a idéia determinista. Assim, acreditar na vida como apenas resultado das nossas ações é, de certa forma, se negar a acreditar que tudo não passa de um algoritmo que seguimos, mesmo sem perceber, que tudo é imprevisível e que nós somos completamente responsáveis pelos nossos atos, embora completamente ignorantes a respeito dos seus impactos. Porém, essa filosofia falha brutamente se repararmos o número incontável de coincidências (importantes ou não) que acontecem na nossa vida, seja conhecendo pessoas que a mudarão ou tendo oportunidades inesperadas.
A terceira maneira de ver as coisas é, fundamentalmente, um combinado das duas outras, de maneira que não nos deixe conformados perante a realidade, mas que tenhamos noção de que tudo o que fazemos, pode e vai gerar um reação, já pré-determinada ou não. Assim, o "livro dos tempos" existe e está escrito, mas apenas estão escritos os trechos mais importantes, deixando os meios para serem moldados e criados por nós mesmos, para que a vida seja sempre dinâmica.
Por fim, você pode acreditar que tudo está escrito, você pode acreditar que tudo depende do que nós fazemos e você pode acreditar que as duas coisas são verdades, a única coisa que você não pode, é achar que se amanhã eu (ou você) for atropelado por um carro, eu não vou parar num hospital todo estraçalhado por causa da batida. Aliás, poder você até pode, só não significa que seja verdade. Ou não.