terça-feira, 25 de outubro de 2011

Umbigocentrismo

Te convido a fazer uma experiência: após desabafar sobre um problema que você tem com algum amigo seu, preste bastante atenção na resposta e no conselho dele; em 90% dos casos ele vai dar um exemplo da própria vida e aproveitar pra dizer algum caso particular. No fundo, o seu pepino não interessa a ele, o que importa é a ligação que o mesmo consegue fazer entre o problema e qualquer coisa que ele já tenha vivido. Quer dizer que as pessoas são arrogantes demais para se preocupar até mesmo com os próprios amigos? Arrogante seria uma palavra muito forte, o mais correto seria falarmos em egocentrismo. O ser humano, quase que por necessidade, tem um botão 'foda-se' ligado sempre no piloto automático, que só é desligado em casos em que a (hipócrita) compaixão fala mais alto, mas na maior parte do tempo, tudo que nós queremos, acreditamos e vivemos, é para satisfazer algum desejo nosso.
"Ah, eu quero isso", "Ah, eu gosto dele", "Fulano é meu amigo", "Gosto de ajudar os outros"; você só quer isso, porque isso te traz uma boa sensação; você só gosta dele, porque algo nele te faz sentir bem; ele só é seu amigo, pelo fato dele ser uma pessoa que te faz bem; você só gosta de ajudar as outras pessoas, porque isso te faz feliz de alguma forma; não teria sentido fazer boas ações se elas não nos trouxessem alegria para viver. Nós não somos felizes porque os outros nos fazem felizes, mas sim porque nós criamos nossa própria felicidade por conta dos bons sentimentos que eles nos trazem, mesmo que não admitamos. Porque, honestamente, no fundo você nem liga para as outras pessoas; você se importa com o seu amor pela pessoa, com a sua amizade, a sua lealdade, com a sua popularidade, mas com o próximo mesmo, você não se importa. Mas fique tranquilo, você não é o único, todo mundo faz a mesma coisa com você. A única verdade que existe (para nós) é a nossa, as outras só servem para comparação. Sem hipocrisia.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Paradoxo do conhecimento

Já virou moda: chova chuva ou chova sol, todo dia sai alguma reportagem em algum veículo de comunicação falando do entrave econômico que é a falta de profissionais com conhecimento técnico aqui no Brasil. Só que, paralelo a isso, o que vemos no mundo corporativo é um absoluto descaso com quem está começando na área, com um sistema de gestão que quase sempre joga os profissionais que tem formação em projeto e desenvolvimento para cargos administrativos, os quais deveriam, em tese, ser ocupados por pessoas que se graduaram na área. É cada vez mais comum encontrar engenheiros em cargos de diretoria e planejamento estratégico de empresas, de modo que, segundo pesquisas*, 6 em cada 10 não trabalha com engenharia de fato. Mas porque isso acontece? Motivos não faltam: remunerações muito menores para profissionais de áreas técnicas do que para cargos administrativos, má formação dos profissionais pelas universidades, entre outros.
É paradoxal ouvir todo dia que 'falta engenheiro no mercado' e ver a empresa oferecendo 5 mil pro engenheiro de aplicação e 10 mil pro gerente. Nada contra os cargos de gerência, mas existem muito mais pessoas com formação e qualificação profissional para assumir um cargo assim, do que alguém que possa desempenhar adequadamente uma função de aplicação; e pior, muitos dos que se tornam gestores, são formados em cursos como engenharia. Não tem nada a ver com a importância para a empresa (que os dois cargos tem muita), tem a ver com oferta e procura, se é tão difícil achar um engenheiro de aplicação por um salário de 5 mil, talvez não seria pelo fato do salário estar incoerente com o trabalho desempenhado? Afinal, grande parte dos profissionais que estão em cargos administrativos tem formação técnica e apreço pela área, mas acabaram migrando para postos de gestão pela remuneração.
O curso de engenharia é completamente voltado para projeto e desenvolvimento de novas tecnologias, só que é vago em relação à conceitos corporativos. Então porque cada vez mais vemos engenheiros nas cabeças das empresas? Enquanto a administração cria no profissional uma capacidade de avaliar tudo macroscopicamente e ser um estrategista, o curso de engenharia ensina o profissional a aprender e desenvolver. Isso quer dizer que, quando determinada teoria aprendida por experiência própria ou na faculdade pelo administrador se tornar obsoleta, ele provavelmente vai ter muito mais trabalho pra desenvolver ou aprender uma nova do que um engenheiro. Em suma: a ignorância empresarial herdada da graduação pode ser compensada com o espírito auto-didata desenvolvido pelo profissional de engenharia, mas o inverso não ocorre com administradores. É visível que o erro vem do foco da graduação, tanto que cursos como "Engenharia de Produção"; que tem matérias básicas técnicas e de gestão do meio para o final do curso, têm se tornado bem populares entre os jovens, mesmo entre aqueles sem nenhum perfil para engenharia.
De fato, se todos os profissionais com conhecimento técnico trabalhassem na área, não leríamos tanto mimimi. Pior, se as empresas fossem coerentes em pagar o quanto o funcionário vale, este post nem estaria aqui. E tenho dito.

*Fonte: http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/seis-em-cada-dez-engenheiros-trabalham-em-outras-areas-20110315.html

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"Não é você, sou eu."

Eu tenho uma teoria sobre relacionamentos; e não tem nada a ver com dimensões penianas ou saldo da conta bancária. Se você coloca sua televisão em uma tomada e ela não funciona, pode ser que qualquer um dos dois esteja com defeito, mas se você a coloca em 20 tomadas diferentes e em todas elas a sua TV não pega, seria demasiadamente conspiratório afirmar que ela está funcionando perfeitamente e o problema são as muitas tomadas. Amigo, sinto lhe dizer a verdade, mas se você conheceu várias mulheres e nenhuma quis nada contigo, provavelmente elas não combinaram para não te querer. E é nesse momento que você tem que pensar como uma garota terminando um namoro: "o problema não é você, sou eu" (só que no seu caso, isso é verdade).
É simples estatística: se você fixa X, testa ele para vários Y e o resultado é o mesmo, a conclusão que você tira é que o resultado depende apenas de X. É evidente que a realidade não é tão radical e eu estou simplificando as coisas, mas de uma maneira generalizada, é assim que funciona. Então todos os caras rejeitados estão condenados ao fracasso eterno? Não, não foi isso que eu disse. Se você tenta abrir uma porta com uma chave e não consegue, você está usando a chave errada, mas isso não significa que esta chave não abra nenhuma porta ou que nenhuma chave abra esta porta, só quer dizer que, neste caso, esta chave não serve. Mas ela pode abrir uma outra porta, a qual tenha uma fechadura que combine com ela. Entendeu agora? Se você é um fracasso absoluto em relacionamentos, pode ter certeza que o problema é você, mas isso não quer dizer que não exista ninguém no mundo que te ache interessante. Você deve estar pensando: "Que exemplo energúmeno, o que seriam então os garanhões?", e eu respondo: A chave mestra.

sábado, 1 de outubro de 2011

Errar é humano

Meu gestor me escolheu dentre 8 estudantes de engenharia para assumir o estágio que faço hoje com a expectativa de que eu seria um cara técnico e aprenderia fácil o serviço; e ele não estava errado, o que ele não imaginava é que eu tivesse uma necessidade contínua de fazer tudo completamente certo, uma necessidade tão grande que cria um medo absurdo de errar. E esse medo, de fato, me faz errar. Quando estou montando um orçamento, por exemplo, o faço passo-a-passo com toda a cautela do mundo, e quando estou acabando, começa a vir a sensação de que finalmente vou conseguir fazer perfeito; é exatamente nesse momento que eu erro, é aí que meu ego infla e que algum detalhe acaba passando. E, de maneira paradoxal, estas minhas falhas devidas ao excesso de confiança acabam me tirando o foco, me irritando e me criando a sensação de que não sou capaz de realizar o serviço, ou seja, meu superego acaba me deixando desconfiado de mim mesmo.
Não tem nada a ver com saber ou não ou serviço, com estar ou não atento, tem a ver com um sentimento prepotente e asqueroso de não aceitar que pode errar, um sentimento que amigos meus já tinham percebido em mim, mas que eu nunca tinha parado pra notar. Eu sempre me perguntei o porquê de eu nunca gostar de escrever a caneta e o porquê de eu sempre cometer sempre esses erros ridículos, mesmo sabendo como fazer certo, mas nunca soube a resposta, até começar a trabalhar. Eu nunca gostei de caneta porque a caneta me dá a ideia de algo definitivo, de algo que você faz na vida que não tem volta, de uma impossibilidade de consertar e, sabendo o tanto que eu errava, não podia jamais me sentir à vontade com isso; no fundo eu sempre tive medo de escrever a caneta, errar e não ter como consertar. Porque eu tinha que fazer certo, eu sempre tive que fazer certo, mesmo sem um porquê específico. Porque eu sempre tive dificuldade de aceitar a minha condição de humano e susceptível a erros, achando que todos na vida profissional faziam tudo sem cometer erros.
Você pode estar me achando patético por isso, mas experimente um dia fazer algo que você sempre fez no piloto automático com 200% de atenção e com extrema vontade de fazer perfeito; inevitavelmente você vai acabar deixando passar algo. O segredo pra fazer certo é ser tranquilo, com atenção, é claro, mas sem a neurose de ser 'o perfeitinho'; isso além de fazer os outros te acharem arrogante, faz você ser menos do que pode ser, por mais paradoxal que possa parecer. Se quer se doar 125% em alguma coisa, o faça sem medo, mas com humildade, porque com medo e prepotência nem 80% vai sair. Não é vergonha nenhuma errar, vergonha é se limitar por causa do medo.