quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Paradoxo do conhecimento

Já virou moda: chova chuva ou chova sol, todo dia sai alguma reportagem em algum veículo de comunicação falando do entrave econômico que é a falta de profissionais com conhecimento técnico aqui no Brasil. Só que, paralelo a isso, o que vemos no mundo corporativo é um absoluto descaso com quem está começando na área, com um sistema de gestão que quase sempre joga os profissionais que tem formação em projeto e desenvolvimento para cargos administrativos, os quais deveriam, em tese, ser ocupados por pessoas que se graduaram na área. É cada vez mais comum encontrar engenheiros em cargos de diretoria e planejamento estratégico de empresas, de modo que, segundo pesquisas*, 6 em cada 10 não trabalha com engenharia de fato. Mas porque isso acontece? Motivos não faltam: remunerações muito menores para profissionais de áreas técnicas do que para cargos administrativos, má formação dos profissionais pelas universidades, entre outros.
É paradoxal ouvir todo dia que 'falta engenheiro no mercado' e ver a empresa oferecendo 5 mil pro engenheiro de aplicação e 10 mil pro gerente. Nada contra os cargos de gerência, mas existem muito mais pessoas com formação e qualificação profissional para assumir um cargo assim, do que alguém que possa desempenhar adequadamente uma função de aplicação; e pior, muitos dos que se tornam gestores, são formados em cursos como engenharia. Não tem nada a ver com a importância para a empresa (que os dois cargos tem muita), tem a ver com oferta e procura, se é tão difícil achar um engenheiro de aplicação por um salário de 5 mil, talvez não seria pelo fato do salário estar incoerente com o trabalho desempenhado? Afinal, grande parte dos profissionais que estão em cargos administrativos tem formação técnica e apreço pela área, mas acabaram migrando para postos de gestão pela remuneração.
O curso de engenharia é completamente voltado para projeto e desenvolvimento de novas tecnologias, só que é vago em relação à conceitos corporativos. Então porque cada vez mais vemos engenheiros nas cabeças das empresas? Enquanto a administração cria no profissional uma capacidade de avaliar tudo macroscopicamente e ser um estrategista, o curso de engenharia ensina o profissional a aprender e desenvolver. Isso quer dizer que, quando determinada teoria aprendida por experiência própria ou na faculdade pelo administrador se tornar obsoleta, ele provavelmente vai ter muito mais trabalho pra desenvolver ou aprender uma nova do que um engenheiro. Em suma: a ignorância empresarial herdada da graduação pode ser compensada com o espírito auto-didata desenvolvido pelo profissional de engenharia, mas o inverso não ocorre com administradores. É visível que o erro vem do foco da graduação, tanto que cursos como "Engenharia de Produção"; que tem matérias básicas técnicas e de gestão do meio para o final do curso, têm se tornado bem populares entre os jovens, mesmo entre aqueles sem nenhum perfil para engenharia.
De fato, se todos os profissionais com conhecimento técnico trabalhassem na área, não leríamos tanto mimimi. Pior, se as empresas fossem coerentes em pagar o quanto o funcionário vale, este post nem estaria aqui. E tenho dito.

*Fonte: http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/seis-em-cada-dez-engenheiros-trabalham-em-outras-areas-20110315.html

Um comentário:

  1. Cara, concordo, infelizmente esse método arcaico de remuneração nas empresas desvia muito o foco de nós meros trabalhadores...Sinto uma parte disso na minha área, apesar das remunerações do meu campo serem boas nas partes técnicas, mas a parte gerencial é muito melhor, é complicado isso...

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